domingo, 3 de agosto de 2008

O castelo







Era tarde da noite quando K. chegou, com uma mala pequena. Foi barrado por um soldado
jovem, com olhos de velho, pele seca.

- O senhor é estrangeiro?  Tem os documentos?

K. pegou sua carteira de identidade e apresentou ao rapaz.

- Essa não serve, o senhor deve retirar um novo documento amanhã de manhã, no castelo. 
São ordens do senhor chefe.

O jovem se retirou, não tinha mais nada a fazer, já havia cumprido a conduta e sentia um orgulho macio, quase íntegro. A roupa verde musgo exercia um prazeroso poder, abafava rigidamente seus gestos naturais, e ele gostava. A cidade é burocrata.

K. não conseguiu esconder sua indgnação, não tinha onde dormir, e estava cansado, muito cansado. Ficou submerso num lodo de raiva por alguns segundos, tempo suficiente para 
deixá-lo quente e vivo. Gritou:

- Não falo a sua língua, seu merda !

O grito ecoou pela cidade, até então silenciosa, derramando-se cartograficamente. Foi quando K. a viu pela primeira vez, e última. Logo, a cidade foi coberta pelo negro da noite, e ele por um vazio frio.











1 comentário:

Manoela Campos disse...

OIIIIII!!! Entrou seu comentário, gracias!!! adorei. Não fui da sua casinha, meu retiro tá difícil de ser retirado, mas tá ótimo também. Mas já estou planejando uma dançação noturna: forrozinho na quarta?!!!!!!!

beijos e boas inspirações poéticas!