terça-feira, 7 de abril de 2009

a fronteira da alvorada...

...de todos esses animais fantásticos, não tenho dúvida de que os da predileção de Borges são os que chama de "animais dos espelhos". Conta que, na época do Imperador Amarelo, o mundo dos homens e dos espelhos não eram, como agora, incomunicáveis e, além do mais, os seres de um e outro mundo não coicidiam nem em forma nem em cores. Passava-se de um mundo para o outro sem problema. Até que certa noite o pessoal do espelho invadiu a terra, travando-se uma sangrenta batalha, vencida pelas tropas do imperador Amarelo, que rechaçou os invasores e os encarcerou nos espelhos, imponde-lhes a tarefa de repetir todos os atos dos homens. Mas dia chegará em que aqueles oprimidos se libertarão e reunirão forças para romper as barreiras do vidro e do metal. e há quem diga que, antes da invasão, ouviremos, vindo do fundo dos espelhos, o rumor das armas...


ferreira gullar



quinta-feira, 2 de abril de 2009

insônia

02:00 : Olho para o teto, as formigas fazem cósegas na bochecha, deixo-as sairem lentas, em fila, do meu olho esquerdo.

2:08: Sai a última formiga. Entendo que não há mais doçura. Meus olhos oscilam entre aberto, fechado, entreaberto, aberto, coberto.

2:40: O ventilador de teto está bambo, preciso chamar o Ney pra dar uma olhada.

3:14: Procuro linhas diagonais, transversais, uma ponta, outra ponta. Desenho a rosa dos ventos no retângulo da minha cama: lado esquerdo, lado direito, embaixo do leçol, por cima do lençol, sem lençol.

3:20: Pesco lágrimas, empilho-as embaixo do travesseiro, dizem que dá sorte.

3:52: Minha extremidade se dobra qual folha de papel protegendo o centro, guardo algo importante, me perco nas dobras e não alcanço o importante. Meus pés estão dormentes, quero dormir como eles.

4:38: Dói, acho que é gases.