terça-feira, 25 de novembro de 2008

suscetível

Feito receita de avó tem até um charme retrô, mas até ela se modernizou: separou, arrumou um namorado, viuvou, hoje tem email e uma gatinha. Continua fazendo ponto de cruz, bordados em pano, pudim de clara
e suspiros.

Assim até parece que ela não cometeu o crime, aquela vovó sentada na cadeira de balanço. Romântico, eu gosto, mas, onde estão aqueles segredos guardados ?
o suspense.

Não escondeu em tapete algum, nem gaveta, nem pó, essas coisas se pegam no embuxo não tem quem se salve, mas a avó sim, se salvou, três pai-nossos, cinco ave-marias e seguiu na cadeira fofa desafinando sustenidos.

Agora bem, aquele crime repassado, aquele ódio, aquela culpa, me chega assim como um bom presente, tomado de vinho seco, um gosto terno de vitela e sangue nos dentes. Não quero o primeiro prato, suspende.

Indigesto, mas saboroso, jantar em família. Cometi o crime ? Mas eu não queria, não, não me trate bem, não mereço, não posso escolher, faça o que quiser de mim sou indgna,
suspeita.

Um apego, quase apelo sofrimento. Acende na cabeça o abajur: não sou eu a assassina, isso não é meu ! Apaga, sonha e sim, lá estou eu com o machadinho. Vazo de um lado, afogo do outro, Acendo de novo e, matei sim, sustento.

Silêncio, o morto está ai, há que enterrá-lo, ou ele pode voltar para puxar o lençol à noite só pra zombar e dar um
susto.







o morto é querido, vai deixar saudades

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