quarta-feira, 24 de junho de 2009

tricoteando tempo ( exercício roseano)

Foi um fato que se deu, um dia, se abriu. O primeiro. Ainda que os ponteiros voltassem sempre pro mesmo ponto, tic. tic. O pulso suado. O homem não sabia. Contava os dedos das mãos, enrolava os cabelos do braço, estalava os dedos. Era nervoso de cinco pessoas numa só. O coitado não parava: comia carninha da unha cuspia comia carninha da unha cuspia comia carninha da unha cuspia e não parava porque se parasse capaz de os ponteiros pararem também vixe... e alargar o vazio assim....[ isso ele nem dizia, nem pensava, mas isso era].
Viciava no vício das coisas, de qualquer nada que lhe tremesse o intervalo dos ponteiros. Tic tic e o trim. O nervoso todo, era de encabulamento, dizia bem claro que ele não era triste, era encabulado, porque "tristeza não é roupa que se use, só aos domingos". Esperava o tic trim de Socorro. O ponteiro tinha dado uma porção de voltas e nenhum zunido entrante do telefone: trim. Sabe-se lá se ela comeria suas palavras doces feito o bombom que lhe entregou na missa?
O bombom ela gostou, meteu tudo na boca e riu com os dentes marronzados, feliz da vida. Todo mundo sabia que ela não era bonita de espelho, mas que na retina do homem ela brilhava, moldurada em alguma parede detrás do peito. Ele só não sabia, era se Socorro lhe cobria algum valor.
Não importa, pensou. O fato já tá escrito, em voz alta. As cartas que falam de amor, essas mesmas cabem, em intervalo nenhum, delas ele sabia.

2 comentários:

bianca disse...

gostei bastante Sa. ta gostoso de ler e tem ideias boas ;)
"era nervoso de cinco pessoas numa só", vixe eu ando assim. bjo

Colageno de Dona–Turu disse...

Muito bom!!!!!!!!



"Viciava no vício das coisas, de qualquer nada que lhe tremesse o intervalo dos ponteiros"

...
...
para preencher o q???