segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

maquiagem de carnaval

A ordem dos cachos
é docemente cuidada;
alguns grampos escondidos,
alguns fios caidos.
Em destaque o adorno:
uma flor e um penacho.

O enfeite dos cachos
é tal emaranhado
que finge solto,
beleza fácil, beijo vendido.
Mas para o olhar atento,
verá só: a dor no
olho teso e o laço perdido.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

penetra surdamente no reino da palavra

yo- hola, que tal?

tu- ça vas bien

yo- te digo que alumbré mi desierto, es un papel blanco

tu- moi, je suis blanc oussi...

yo- me encanta hablar contigo, cariño, l'humour noir française !

me- please, don't forget our date, i miss you

silence


você - desculpe, te falto

eu - amo você, mas às vezes não te entendo, ou é vc que não me entende?

eu - aquele nosso encontro no museu da língua portuguesa mexeu comigo, chorei copiosamente, enquanto eu chorava pensava "choro copiosamente", foi louco.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

da série "oníricos"

Dessa vez a lembrança veio agressiva, veio assim, feito um povo na luta por terra. Migrava para se saber física, no espaço. Tão agressiva foi a lembrança que o agora se fingiu de morto, uma atitude de sobrevivência

...

A cozinha é o maior cômodo, é toda aberta com a pia de frente para o jardim... Na única parede tem um relógio cuco. Espero meio dia sair o pássaro de plástico, vem da janela avisar o pulso e se fecha na casa relógio. Sei que meio dia sou pássaro também.

(o passado inebria, só tem um cheiro amarelado. Não me importo com o cheiro amarelado, me importo com o sossego amortecido de quem espera)

Após a bem sucedida posse da lembrança, ela marca, outra letra e vai embora.