
Era tarde da noite quando K. chegou, com uma mala pequena. Foi barrado por um soldado
jovem, com olhos de velho, pele seca.
- O senhor é estrangeiro? Tem os documentos?
K. pegou sua carteira de identidade e apresentou ao rapaz.
- Essa não serve, o senhor deve retirar um novo documento amanhã de manhã, no castelo.
São ordens do senhor chefe.
O jovem se retirou, não tinha mais nada a fazer, já havia cumprido a conduta e sentia um orgulho macio, quase íntegro. A roupa verde musgo exercia um prazeroso poder, abafava rigidamente seus gestos naturais, e ele gostava. A cidade é burocrata.
K. não conseguiu esconder sua indgnação, não tinha onde dormir, e estava cansado, muito cansado. Ficou submerso num lodo de raiva por alguns segundos, tempo suficiente para
deixá-lo quente e vivo. Gritou:
- Não falo a sua língua, seu merda !
O grito ecoou pela cidade, até então silenciosa, derramando-se cartograficamente. Foi quando K. a viu pela primeira vez, e última. Logo, a cidade foi coberta pelo negro da noite, e ele por um vazio frio.