terça-feira, 21 de outubro de 2008

movie (ing)

A personagem entra na casa. Seta em direção à vitrola. Escolhe Chicago/The blues/today! Preprara-se para o banho. Entra no chuveiro, deixa-lhe escorrer a água quente alguns minutos, não passa sabonete, xampú, creme, nada. Só água. Enxuga-se, veste o ropão. É tomada por um vazio. Espera

Passa hidratante, penteia-se, passa live-in para cachear os cabelos.  Pega um baseado já enrolado. Fuma. Olha-se no espelho, fixa o olhar para registrar como se sente agora, para lembrar-se mais tarde "aquele momento". Troca o vinil, René Hernandez. Dança na sala. Quer ser livre. A tela em branco espera ansiosamente um primeiro traço, espera. Pausa também é movimento

A personagem entra na cozinha, pega uma cerveja como um novo hábito de dona-de-casa. Olha-se no espelho do microondas, vê um rosto triste, talvez chapado, não quis mais imaginar seus 40 anos, quando tivesse marido e filhos, muitos clientes. Tanto quis a liberdade e agora ela se inflou como um balão. A personagem tem medo de altura !

Corta um pedaço de bolo de cenoura, solado ( a personagem anda empenhada em aprimorar seus dotes culinários). Senta no chão, come o bolo. Espera. Deita. Acende um cigarro. Troca o vinil, Transa, pontua "mora na filosofia, pra ver se sente a emoção que sentia. Canta, mas não há emoção. O passado não está presente. Há pausa. O tempo está estilhaçado, instantes que nascem e morrem como uma pia pingando. Espera, pausa também é movimento

Vai se deitar sonha que tem um bicho entalado dentro puxa garganta afora mas seu rabo seu rabo seu rabo seu rabo seu rabo não tem fim. Acorda no meio da noite. Espera. Não é tomada por nenhum pensamento, está lisa e branca, desacompanhada de fantasia, só. Espera



* o filme, espeeeeera



4 comentários:

NÃO SE PODE VIVER SEM AMOR disse...

Hola, me gustó mucho la hitória, no sé si és como la de la chica Irene, o algo así.
Pero pienso;
que tanto espera esta chica, que le hace falta?.
Al final, ay noches que son como que maravillosas de surpreendentes y otras, puro normales.
Pero al final el agua lo lleva todo.
Un beijo, Gabriel.

Clara Cavour disse...

nossa, sá, fiquei arrepiada. amei. sei lá, to precisando tanto desse espaço-meu-minha-casa. mesmo que vazio.

faço assistência de direção quando precisar.

Colageno de Dona–Turu disse...

ESPEEEEERAA.....


ai, ai, o ano da espera...

Colageno de Dona–Turu disse...

e,


que deleitemos o presente!

(na espera tb há atividade)