sábado, 29 de novembro de 2008

propriamente dito



















Dá-lhe choque
na laranja,
mas por favor
deixe minha
mecânica própria:
é azul
minha cor,
sou cedo,
uma linha
de manhã,
sou assim
ecoline borrado
no papel
e nanquim
não sou louca.


sexta-feira, 28 de novembro de 2008

re leve

Tá dando goteira
no meu travesseiro
de penas.

Não se ocupe,
o pequeno vazamento,
é uma pena
só.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

qual o quê?



















desejo vira casaca
não confio
cãibra de um lado
cobra do outro
ainda vem me
tomar a casa

existe o acaso?





*imagem: colagem sobre papel

terça-feira, 25 de novembro de 2008

suscetível

Feito receita de avó tem até um charme retrô, mas até ela se modernizou: separou, arrumou um namorado, viuvou, hoje tem email e uma gatinha. Continua fazendo ponto de cruz, bordados em pano, pudim de clara
e suspiros.

Assim até parece que ela não cometeu o crime, aquela vovó sentada na cadeira de balanço. Romântico, eu gosto, mas, onde estão aqueles segredos guardados ?
o suspense.

Não escondeu em tapete algum, nem gaveta, nem pó, essas coisas se pegam no embuxo não tem quem se salve, mas a avó sim, se salvou, três pai-nossos, cinco ave-marias e seguiu na cadeira fofa desafinando sustenidos.

Agora bem, aquele crime repassado, aquele ódio, aquela culpa, me chega assim como um bom presente, tomado de vinho seco, um gosto terno de vitela e sangue nos dentes. Não quero o primeiro prato, suspende.

Indigesto, mas saboroso, jantar em família. Cometi o crime ? Mas eu não queria, não, não me trate bem, não mereço, não posso escolher, faça o que quiser de mim sou indgna,
suspeita.

Um apego, quase apelo sofrimento. Acende na cabeça o abajur: não sou eu a assassina, isso não é meu ! Apaga, sonha e sim, lá estou eu com o machadinho. Vazo de um lado, afogo do outro, Acendo de novo e, matei sim, sustento.

Silêncio, o morto está ai, há que enterrá-lo, ou ele pode voltar para puxar o lençol à noite só pra zombar e dar um
susto.







o morto é querido, vai deixar saudades

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

definindo potência II

o que me cabe
quando quanto
é tamanho justo
não giganteio mais
nem formigo
só o dedão do pé
quando toca o chão
e diz:

as pessoas são formidáveis

definindo potência I

opa, dei um furo num pacto esquecido
com quem mesmo?

acordei descabelada, sem vênus nenhuma
perfeitamente vestida com malha
de pele póro e sal, por cima,
uma camada de pijaminha velho

a galinha do jantar fugiu sem cabeça, outro furo
-isso não estava no roteiro-

bonequinha de luxo não tem alma
não faço o filme, nem por um milhão.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

cabo verde



Mayra Andrade


Tunuka (em crioulo)

Tunuka, Tunuka bála
Ki tem koráji, é só Tunuka di meu
Sukuru ka da-l kudádu,
Ka duê-l xintidu, ki fari duê-l korasom.
Tunuka é nós ki bai,
É nos ki bem, é nos ki fika li-mé.
Nu uni korasom,
Nasionalidádi dja-nu tem dja,
Nu mára nós kondom, nós limária nu dexâ-l la.
É nós ki mbárka pa Sam Tomé
Injuriádu marádu pé
Mi ku bo ki stába la mé
Tudu m-dádu m-da-u també
Na nós pom di kada diâ, oxi dretu manham mariádu
Ramediádu ka tem midjor
Ki spéra m-dádu m-da-u també.
Tunuka kre-u ka pekádu
Da-u ka ta fládu, má só bu da-m ki tenê-m.
Tunuka, Tunuka, Tunuka
Tunuka,Tunuka, é ti si ki-m tem pa-m fla-bu.
(solo)- Tunuka,t,t,t,t, é ti si ki-m tem pa-m fla-bu…

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

eterno volteado




















Aquilo era a tristonha travessia, pois então era preciso. Água de rio que arrasta.

Dias que durasse, durasse; até meses. Agora, eu não me importava. Hoje, eu penso,

o senhor sabe: acho que o sentir da gente volteia, mas em certos modos rodando em

si por regras. O prazer muito vira medo, o medo vai vira ódio, o ódio vira esse desespero?

- desespero é bom que vira a maior tristeza, constante então para o um amor-quanta saudade...-; aí , outra esperança já vem....



Guimarães Rosa

* imagem: colagem sobre papel

terça-feira, 11 de novembro de 2008

cres que hace sol?

yo: hola, que tal?

tu: hola.

yo: pués, nada
te llamo para decir que...

tu: me acordé de tí,
un sueño raro
yo pasaba de bus y te vía
por la ventana
el semáforo
se ponia verde
y yá
nada más...

yo: el clima está temperado:
lluvia por la noche
desiertos días.





quinta-feira, 6 de novembro de 2008

cité de la petit mort

Decolagem agora tem rumo!





Muitas costas, espumas, laranjas, azuis, metais estão por vir.
Suculentos figos, caquis, cuscuz, castanhas, de escorrer
saliva, cheiro, e boca.
O barulho do mar é fotografável: revela-se de cima pra baixo, da superfície àprofunda pele, fixando-se aí.
Inscreve uma canção particular.
O vento é um abraço de rede, tem arco elástico para te lançar.
As cidades invisíveis agora marcam um pulso rítmico. Chamam com vozes de veludo e misteriosas, chamam - são perigosas.
Não foram descobertas, seguem cobertas por uma capa de película fina e invisível.
São terras e mais terras riquíssimas, frutíferas, úmidas e quentes, querem que as fecundem, que as façam gozar.




*para Calvino

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

seleção natural



















ode ao trabalho das abelhas
trabalham sem carteira assinada
dentro de mim
fabricam mel para adorno
todo dia;
não as contratei
meu tronco é favorável.